ENVOLVENTE FÍSICA DA PENÍNSULA IBÉRICA (II)
A FORMAÇÃO DO MAR MEDITERRÂNEO E DO ESTREITO DE GIBRALTAR
A FORMAÇÃO DO MAR MEDITERRÂNEO
O Mar Mediterrâneo, tal como o conhecemos, formou-se há cerca de 5,3 milhões de anos quando as águas do Oceano Atlântico romperam o estreito de Gibraltar, invadindo a bacia mediterrânica.
Anteriormente, durante o início do período da crise de salinidade messiniana (há cerca de 6 milhões de anos) uma parte da litosfera desprendeu-se da Ibéria (segundo proposta de Garcia-Castellanos y Villaseñor, Nature, 2011) e afundou-se no manto terrestre, o que provocou um levantamento do sul da Ibéria, fechando a ligação entre o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo. Uma vez fechado, o clima árido e quente da região, provocou um rápido declínio do nível das águas mediterrânicas, que haviam tido cerca de um quilómetro de profundidade, em que 3/4 das águas do mediterrâneo evaporaram. Criou-se portanto uma gigantesca salina – daí o nome “crise de salinidade messiniana”. Messiniano é uma subdivisão do Mioceno.
Mas um movimento posterior das placas tectónicas fez com que o solo em redor do Estreito de Gibraltar diminuísse, provavelmente abatendo o istmo que ligava África à Europa, o que permitiu que as águas do Oceano Atlântico abrissem caminho para a bacia do Mediterrâneo.
Inicialmente, segundo o estudo de Daniel Garcia-Castellanos (Nature,2009), a água fluíu lentamente durante um período que levou milhares de anos, mas o seu final abrupto, que encheu cerca de 90% do Mar Mediterrâneo, deu-se num curto espaço, por cerca de alguns meses a dois anos, com um fluxo que chegou a ser mil vezes superior ao do atual rio Amazonas.
O desnível entre o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo era de uma média de 1500 metros e na fase final da enchente (dos 90%), o Mediterrâneo enchia-se a um ritmo de cerca de 10 metros por dia. Este fluxo acabou por criar no fundo marinho uma erosão de 200 quilómetros de comprimento com vários de largura.
Por outro lado, calcula-se que o Oceano Atlântico terá tido uma descida de 9,5 metros no seu nível.
Esta terá sido a maior e mais violenta inundação, que se saiba, que a Terra conheceu.
A complexidade das placas tectónicas Euroasiática e Africana na zona mediterrânica.
Reconstituição do aspecto da zona Mediterrânica há cerca de 140 milhões de anos, com o desenho (a negro) dos contornos actuais dos continentes...
Desenho esquemático da mesma zona, há cerca de 70 milhões de anos.
A zona onde se formou o actual Mar Mediterrâneo foi designada por Mar de Tethys...
Cerca de 10 milhões de anos...
Há cerca de 7 milhões de anos, o Mediterrâneo ficou totalmente separado do Atlântico, produzindo-se aquilo a que os geólogos designam por "crise de salinidade messiniana", quando as águas mediterrânicas se evaporaram, produzindo uma imensa salina...
Duas imagens que mostram (conjecturalmente) o Mediterrâneo "seco" - os contornos actuais da Europa e África, sobrepõem-se a traço branco...
Há cerca de 5 milhões de anos, as águas do Atlântico romperam o bloqueio, criando o Estreito de Gibraltar, recomeçando a encher a bacia mediterrânica.
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A FORMAÇÃO
DO ESTREITO DE GIBRALTAR
Um estudo recriou a evolução do Arco de Gibraltar durante 21 milhões de anos para compreender porque foi fechada a ligação entre o Mediterrâneo e o Atlântico
Uma equipa de geólogos reconstruiu a evolução do arco formado pelas Cordilheiras Béticas, no sul da Espanha, e o Sistema do Rift, no norte de África, há 21 milhões de anos. No entanto, a equipa concentrou-se num período específico, de há nove milhões de anos, para compreender as causas do que é conhecido como a crise de salinidade messiniana. Esse episódio aconteceu quando uma parte da litosfera se desprendeu da Ibéria (segundo proposta de Garcia-Castellanos y Villaseñor, Nature, 2011) e se afundou no manto terrestre, o que provocou um levantamento do sul da Ibéria, fechando a ligação entre o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo. Uma vez fechado, o clima árido e quente da região, provocou um rápido declínio do nível das águas mediterrânicas, que haviam tido cerca de um quilómetro de profundidade, em que 3/4 das águas do mediterrâneo se evaporaram.
Ana Crespo-Blanc, geóloga da Universidade de Granada e principal autora do estudo, explica que os cientistas consideram o sistema do Arco de Gibraltar como tudo aquilo que está no extremo do Mediterrâneo ocidental: “Não apenas os elementos emersos das Cordilheiras Béticas, como também o que está sob a água, do Golfo de Cádiz até ao mar de Alborão”, explica Crespo-Blanc. A abertura do Mediterrâneo ocidental como tal, começou há 26 milhões de anos e há cerca de 15 milhões de anos tinha uma forma semelhante à actual. Então, a ligação entre o Atlântico e o Mediterrâneo era feita por meio de dois corredores ou pequenos estreitos. Um dos corredores estava ao norte do Sistema de Rift e o outro ao sul de Antequera. Muito mais tarde, há seis milhões de anos, os dois corredores foram fechados, causando a crise salina referida atrás. Os geólogos observaram que entre seis e nove milhões de anos atrás aconteceu algo que causou, em primeiro lugar, o isolamento do Mediterrâneo e, posteriormente, a sua reabertura, formando o que é hoje conhecido como o Estreito de Gibraltar.
Ao reconstruir o arco, os geólogos comprovaram que juntamente com a convergência dos continentes aconteceu outro fenómeno no limite das placas da Ibéria e da África. Nessa área existem grandes blocos de terra que podem chegar a medir 300 quilómetros de comprimento por 150 quilómetros de largura e fazem parte das extremidades de ambos os continentes. Durante milhões de anos esses blocos foram girando muito lentamente sobre si mesmos. No caso da Cordilheira Bética, a rotação seguiu o sentido dos ponteiros do relógio; o Sistema de Rift fez o sentido contrário.
A surpresa para os pesquisadores não foi apenas a existência desses blocos, mas a velocidade, do ponto de vista geológico, com que giraram. Um bloco localizado na Cordilheira Bética central, por exemplo, girou até 53 graus em nove milhões de anos. “Isso significa que estamos falando de quase seis graus em cada milhão de anos. Para a maioria das pessoas isso parece muito pouco, mas em termos geológicos é uma barbaridade”, explica Crespo-Blanc.
Entre as placas de África e da Ibéria, que permanecem em constante aproximação, estão as cordilheiras das áreas béticas e o Sistema do Rift. Devido ao choque dos dois continentes tinham sido criadas há muito tempo atrás, várias cadeias de montanhas que formam o que os geólogos chamam de sistema do arco de Gibraltar. “E é dentro desse sistema onde encontramos esses grandes blocos que giram”, explica a geóloga. Foi precisamente essa rotação dos blocos o que provocou, há seis milhões de anos, o fecho da ligação Atlântico-Mediterrânico e a posterior abertura do Estreito de Gibraltar.
“Há seis milhões de anos, chegou um momento em que a África seguiu esse movimento para o noroeste, de modo que foi surgindo um relevo grande o suficiente para impedir a ligação entre o Atlântico e o Mediterrâneo e por isso fecharam-se ambos os corredores que ligavam os dois mares”, conta Crespo-Blanc. Naquela época, a água que chegava ao mar proveniente dos grandes rios que desembocam no Mediterrâneo, como o Ródano, o Ebro, o Nilo ou o Danúbio não era suficiente para compensar a evaporação, de modo que o nível do mar caiu para entre 1.500 e 1.700 metros abaixo do Atlântico. A alta concentração de sal que se deu na água acarretou o depósito de grandes quantidades de sais no fundo do mar em torno dos limites do Mediterrâneo. Alguns deles estão associados com as minas de estrôncio, como as de Montevives, em Granada.
A reconstrução feita pelos geólogos não é importante apenas para conhecer as causas do fecho do Mediterrâneo, mas também para entender como surgiram essas minas de estrôncio, mineral muito importante na fabricação de produtos tecnológicos e assim poder proteger as reservas do mineral. A pesquisa também pode servir para estudar a evolução das falhas ativas que provocam terramotos. “E para saber como se formou o arco da Calábria, na Itália, que é muito semelhante ao de Gibraltar”, diz Crespo-Blanc. A pesquisa foi uma colaboração de mais de três anos entre as Universidades de Granada e Pablo de Olavide e o Instituto Andaluz de Ciências da Terra.
Uma equipa de geólogos reconstruiu a evolução do arco formado pelas Cordilheiras Béticas, no sul da Espanha, e o Sistema do Rift, no norte de África, há 21 milhões de anos. No entanto, a equipa concentrou-se num período específico, de há nove milhões de anos, para compreender as causas do que é conhecido como a crise de salinidade messiniana. Esse episódio aconteceu quando uma parte da litosfera se desprendeu da Ibéria (segundo proposta de Garcia-Castellanos y Villaseñor, Nature, 2011) e se afundou no manto terrestre, o que provocou um levantamento do sul da Ibéria, fechando a ligação entre o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo. Uma vez fechado, o clima árido e quente da região, provocou um rápido declínio do nível das águas mediterrânicas, que haviam tido cerca de um quilómetro de profundidade, em que 3/4 das águas do mediterrâneo se evaporaram.
Ana Crespo-Blanc, geóloga da Universidade de Granada e principal autora do estudo, explica que os cientistas consideram o sistema do Arco de Gibraltar como tudo aquilo que está no extremo do Mediterrâneo ocidental: “Não apenas os elementos emersos das Cordilheiras Béticas, como também o que está sob a água, do Golfo de Cádiz até ao mar de Alborão”, explica Crespo-Blanc. A abertura do Mediterrâneo ocidental como tal, começou há 26 milhões de anos e há cerca de 15 milhões de anos tinha uma forma semelhante à actual. Então, a ligação entre o Atlântico e o Mediterrâneo era feita por meio de dois corredores ou pequenos estreitos. Um dos corredores estava ao norte do Sistema de Rift e o outro ao sul de Antequera. Muito mais tarde, há seis milhões de anos, os dois corredores foram fechados, causando a crise salina referida atrás. Os geólogos observaram que entre seis e nove milhões de anos atrás aconteceu algo que causou, em primeiro lugar, o isolamento do Mediterrâneo e, posteriormente, a sua reabertura, formando o que é hoje conhecido como o Estreito de Gibraltar.
Ao reconstruir o arco, os geólogos comprovaram que juntamente com a convergência dos continentes aconteceu outro fenómeno no limite das placas da Ibéria e da África. Nessa área existem grandes blocos de terra que podem chegar a medir 300 quilómetros de comprimento por 150 quilómetros de largura e fazem parte das extremidades de ambos os continentes. Durante milhões de anos esses blocos foram girando muito lentamente sobre si mesmos. No caso da Cordilheira Bética, a rotação seguiu o sentido dos ponteiros do relógio; o Sistema de Rift fez o sentido contrário.
A surpresa para os pesquisadores não foi apenas a existência desses blocos, mas a velocidade, do ponto de vista geológico, com que giraram. Um bloco localizado na Cordilheira Bética central, por exemplo, girou até 53 graus em nove milhões de anos. “Isso significa que estamos falando de quase seis graus em cada milhão de anos. Para a maioria das pessoas isso parece muito pouco, mas em termos geológicos é uma barbaridade”, explica Crespo-Blanc.
Entre as placas de África e da Ibéria, que permanecem em constante aproximação, estão as cordilheiras das áreas béticas e o Sistema do Rift. Devido ao choque dos dois continentes tinham sido criadas há muito tempo atrás, várias cadeias de montanhas que formam o que os geólogos chamam de sistema do arco de Gibraltar. “E é dentro desse sistema onde encontramos esses grandes blocos que giram”, explica a geóloga. Foi precisamente essa rotação dos blocos o que provocou, há seis milhões de anos, o fecho da ligação Atlântico-Mediterrânico e a posterior abertura do Estreito de Gibraltar.
“Há seis milhões de anos, chegou um momento em que a África seguiu esse movimento para o noroeste, de modo que foi surgindo um relevo grande o suficiente para impedir a ligação entre o Atlântico e o Mediterrâneo e por isso fecharam-se ambos os corredores que ligavam os dois mares”, conta Crespo-Blanc. Naquela época, a água que chegava ao mar proveniente dos grandes rios que desembocam no Mediterrâneo, como o Ródano, o Ebro, o Nilo ou o Danúbio não era suficiente para compensar a evaporação, de modo que o nível do mar caiu para entre 1.500 e 1.700 metros abaixo do Atlântico. A alta concentração de sal que se deu na água acarretou o depósito de grandes quantidades de sais no fundo do mar em torno dos limites do Mediterrâneo. Alguns deles estão associados com as minas de estrôncio, como as de Montevives, em Granada.
A reconstrução feita pelos geólogos não é importante apenas para conhecer as causas do fecho do Mediterrâneo, mas também para entender como surgiram essas minas de estrôncio, mineral muito importante na fabricação de produtos tecnológicos e assim poder proteger as reservas do mineral. A pesquisa também pode servir para estudar a evolução das falhas ativas que provocam terramotos. “E para saber como se formou o arco da Calábria, na Itália, que é muito semelhante ao de Gibraltar”, diz Crespo-Blanc. A pesquisa foi uma colaboração de mais de três anos entre as Universidades de Granada e Pablo de Olavide e o Instituto Andaluz de Ciências da Terra.
Desenhos conjecturais da formação - em 4 fases - do Estreito de Gibraltar
(contornos actuais dos continentes em tracejado).
Nota: As datas constantes dos textos que aqui publico podem não ser coincidentes, mas acontece que me baseei em matérias de autores diferentes e nem sempre todos estão sintonizados com as mesmas datações para tratar estas matérias. Quanto às datas nas legendas das imagens tentei ser coerente com os períodos tratados nelas.
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(contornos actuais dos continentes em tracejado).
Nota: As datas constantes dos textos que aqui publico podem não ser coincidentes, mas acontece que me baseei em matérias de autores diferentes e nem sempre todos estão sintonizados com as mesmas datações para tratar estas matérias. Quanto às datas nas legendas das imagens tentei ser coerente com os períodos tratados nelas.
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